Apresentação
Saudações meus amigos - não apenas do Legacy, mas de todo o Magic! Hoje o assunto é uma singela homenagem a um dos grandes da história do Magic. Hoje vamos falar de Kai Budde, o Juggernaut Alemão.

O Maior Campeão de Pro Tours
Existe uma discussão que é uma das preferidas entre qualquer roda de amigos: quem é melhor? Messi ou Cristiano Ronaldo? Star Wars ou Senhor dos Anéis? Beatles ou Rolling Stones?
Com Magic, isso também não é diferente. A discussão sobre o maior jogador de todos os tempos é bastante subjetiva, mas, durante muito tempo, invariavelmente recaía sobre duas personalidades: Jon Finkel e Kai Budde. Alguns anos depois, o brasileiro Paulo Vítor Damo da Rosa (PV), demonstrou suas credenciais para entrar nesse debate. Porém, não há consenso sobre quem é o maior, já que sequer há um consenso sobre a métrica de avaliação. Mas se olharmos apenas para resultados totais, é difícil contestar o nível de dominação de Kai nos seus anos de auge.

Vamos aos números: Kai é o maior campeão de Pro Tours, os mais importantes torneios de Magic, de todos os tempos, com 7 Troféus – um deles sendo o Campeonato Mundial de 1999. Para se ter uma noção desse feito, os segundos lugares nessa lista tem “apenas” 3: Jon Finkel, Seth Manfield e Dirk Baberowski (sendo que 2 títulos do Dirk foram em Pro Tour de Trios com o próprio Kai!). Como os campeonatos Mundiais a partir de 2012 deixaram de ser considerados Pro Tour, a contagem do PV são 2 Pro Tours e 1 Mundial.
Mas não é só isso. Kai também é maior vencedor de Grand Prix, torneios grandes e abertos a qualquer jogador, com 7 títulos. Esse recorde é dividido com mais dois jogadores, Yuuya Watanabe e Shuhei Nakamura. Ele é também o jogador com mais títulos de Jogador do Ano, com 4. Somente outros 2 jogadores conseguiram ganhar esse título 2 vezes, o já citado Yuuya Watanabe e Owen Turtenwald. Além disso, ele ganhou basicamente tudo o que era possível: foi Campeão Nacional Alemão, o Campeonato Mundial por Equipes e ganhou os extintos Master Series e o Invitational (torneios com vagas apenas para jogadores convidados) – o Masters era jogado em paralelo aos Pro Tour e o Invitational dava o direito ao campeão criar sua própria carta, no caso de Kai, Voidmage Prodigy. Em 2007, ele foi eleito para o Hall da Fama de Magic.
O motivo de falarmos hoje sobre esse grande campeão do nosso jogo é um assunto triste, porém também uma oportunidade de celebrar o Magic. Durante a transmissão do Pro Tour Modern Horizons 3, foi feito um anúncio de que Kai Budde encontra-se em uma batalha contra um câncer e que a situação não é nada promissora. Em sua homenagem, o prêmio de Jogador do Ano agora se chama Prêmio Kai Budde de Jogador do Ano. Foi um momento emocionante, em um belo discurso feito pelo membro do Hall da Fama e diretor de Programação de Jogos da Wizards, William “Huey” Jensen. Não foram poucas lágrimas de vários membros importantes da comunidade e muitos foram os depoimentos sobre a influência que o Juggernaut teve em suas carreiras, seja ajudando diretamente, seja servindo como inspiração.
Eu tive a oportunidade de me sentar diante dele no mundial de 2006 no Player’s Meeting, que ocorre antes da divulgação da primeira rodada de um Pro Tour e pude trocar algumas palavras com ele. Sempre foi tido pelos membros da comunidade como alguém muito gentil fora da mesa de jogo e um adversário implacável na hora do duelo e foi essa a impressão que tive ao conversar com ele e ao observá-lo nas mesas de jogo nos Feature Matches.
Pessoalmente, eu sempre fui #teamKai nesse debate e considero uma honra tê-lo conhecido pessoalmente. Quando soube da notícia, me senti na obrigação como membro da comunidade de Magic e escritor de artigos, de fazer também a minha homenagem àquele que para sempre estará na história do Magic.
A Lenda Começa
Embora tenha começado a jogar em 1994 e classificado para o seu primeiro Pro Tour em 1997, Kai chamou a atenção do mundo para si na temporada 98-99 quando, num período de 7 meses, ganhou 3 Grand Prix (Barcelona, Viena e Amsterdã) e ficou em 2º em outro.
Visto como o Rei dos GPs e um jogador promissor no cenário, ele deu sequência a isso com sua primeira vitória em Pro Tours, ao conquistar o campeonato mundial daquele ano. Esse título também garantiu a ele os pontos para se tornar o Jogador do Ano daquela temporada (98-99). A temporada seguinte foi morna, sem nenhum título e algumas pessoas chegaram a achar que ele pudesse ter sido apenas uma estrela cadente. Erro rude.
O Juggernaut Alemão
A temporada 00-01 só não foi o maior domínio de um jogador sobre o circuito profissional de Magic porque ela fica em segundo lugar para a temporada 01-02. Ele começou sua escalada com um 3º lugar no GP Florença e na semana seguinte conquistou em Chicago seu 2º título de Pro Tour em um dos Top 8 mais estrelados de todos os tempos: 6 jogadores desses 8 viriam mais tarde ser membros do Hall da Fama! É bom ressaltar que nessa época, apenas outros 2 jogadores tinham conseguido ganhar 2 Pro Tours, Jon Finkel e Tommi Hovi.
Kai ficou silencioso nos 2 Pro Tours seguintes, mas entrou para história de vez ao se tornar o primeiro Tricampeão de Pro Tours com sua conquista do Pro Tour Barcelona, selando a temporada com sua 2ª conquista de Jogador do ano. E aí começa a história da temporada 01-02.
Já no quinto Grand Prix da temporada, Kai levantou seu quarto troféu desse circuito em preparação ao Pro Tour por Trios que viria na semana seguinte em Nova Iorque. E, adivinhem? A Phoenix Foundation, sua equipe ao lado de Dirk Baberowski e Marco Blume, se sagrou campeã e com isso, Kai era Tetra! É Tetra!

Só que o ano ainda não havia acabado e o Juggernaut estava pronto para continuar atropelando. Em outubro de 2001 ele venceu o Invitational, que acabou por concedê-lo a oportunidade de criar o Voidmage Prodigy. Veio então o Pro Tour Nova Orleans e a grande história foi que o colunista de Magic Eric Taylor (EDT) disse que tinha tanta certeza que era impossível que Kai levantasse o seu 5º troféu e se tornasse o primeiro (e até o momento único) jogador a ganhar 2 Pro Tours seguidos, que ele comeria o seu próprio chapéu se isso acontecesse. Pois bem, foi necessária uma boa dose de ketchup para ajudar o pobre EDT a engolir um pedaço do seu chapéu e pagar sua promessa!

Na sequência de sua temporada monstruosa, Kai não ganhou o 3º Pro Tour seguido, mas levantou mais 2 canecos de Grand Prix e ainda viu a Phoenix Foundation ganhar o Masters (que na época era jogado em paralelo ao Pro Tour) em Osaka.
Nice foi a casa do próximo Pro Tour da temporada e, para a surpresa de ninguém, mais um top 8 de Kai. Com 5 vitórias nos 5 Top 8s anteriores, criou-se o mito de que “Kai não perde nos Domingos (dia em que eram disputados os jogos do top 8)”. Esse mito finalmente caiu quando o holandês Bram Snepvangers se tornou o primeiro jogador a derrotar Kai em um Top 8 de Pro Tour. De bônus, no mesmo final de semana, Kai levou também um top 4 no Masters desse evento.
No período entre Nice e o Campeonato Mundial, em Sidney na Austrália e vencido pelo brasileiro Carlos Romão (Jaba), Kai ainda levou para casa o Campeonato Nacional Alemão, o que lhe deu o direito de participar da competição por times no Mundial. Já que eu dei o spoiler que o Jaba ganhou o mundial, então esse não foi mais um título do Juggernaut, certo? Certo. Para a competição individual, pois ele levou a Alemanha ao título por Equipes. Logicamente, ele foi, pela 3ª vez, o Jogador do Ano.
Iniciou-se então a temporada 02-03. O primeiro Pro Tour, em Boston, era novamente por Trios. A essa altura, a coisa já nem tinha mais graça: 2º título da Phoenix Foundation e o 6º geral de Kai Budde. Ele teve ainda mais um top 4 em Grand Prix em uma temporada bem mais light que a passada e não fez Top 8 no Pro Tour seguinte, Houston.
Chegamos então ao 3º Pro Tour da temporada. Kai novamente alcança o Top 8. Semifinal. Adversário: Jon Finkel. Foi a única vez que os dois se enfrentaram num Top 8. É, talvez, o maior jogo da história do Magic. O formato era Limited de Investida. Em um momento mágico, Kai Budde joga uma mágica de remoção em um Morph de Finkel. Ela resolve. Finkel revela a criatura Morphada: Voidmage Prodigy! Kai acabou ganhando o jogo e a final subsequente para o seu sétimo título de Pro Tour.

Ele não ganharia outros títulos nessa temporada, embora tenha adicionado mais um top 8 de Masters em Chicago para finalizar pela 4ª vez, a 3ª vez seguida, como o Jogador do Ano.
Os Anos Seguintes
Tendo ganho tudo, mais um pouco e tudo de novo, Kai passou a reduzir o ritmo nos anos seguintes, se afastando para longe do jogo de tempos em tempos. Nos anos após as 3 temporadas absurdas de 00 a 03, ele ainda adicionou mais um título (Madri 2004) e 3 Top 8s de Grand Prix, mais 3 Top 8s de Pro Tours (1 com a Phoenix Foundation) e um top 8 no Mythic Championship III em Las Vegas. Ele ganhou mais de 380.000U$ em premiações no circuito ao longo de sua carreira.
Sua última aparição em torneios de nível profissional foi justamente no Pro Tour Modern Horizons 3, onde foi feita a homenagem a sua enorme carreira. Ele não conseguiu se classificar para o segundo dia de competição, mas ficou para jogar torneios paralelos. Incluindo um Pro Tour Qualifer no Domingo. Que ele ganhou. Afinal, Kai não perde em Domingos!
Concluindo
Não existirá um consenso sobre o maior de todos os tempos (na minha modesta opinião, ele é). Porém, ninguém negará que Kai Budde está entre os 3 maiores. Seu feito de conquistar 7 Pro Tours não parece ser capaz de ser igualado. Sua temporada 01-02 foi a maior da história do jogo.
Seu nome marcará para sempre o título de Jogador do Ano. As notícias tristes sobre a sua saúde não são nada perto do legado que ele deixou para o jogo. O tempo passará, mas a lenda de Kai Budde permanecerá.
Um abraço juggernáutico, espero que tenham gostado dessa história e até a próxima!
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